quarta-feira, 29 de agosto de 2018

LIVRO: A MENINA MARIA E O RIO SUBAÉ




Este livro conta a história de um rio e de uma menina, de uma menina e de um rio, ou melhor, este livro conta a história de amor entre  uma menina e um rio.
Em verdade, esta não é apenas a história de Maria, é a história de várias Marias que na sua infância experimentaram a beleza do brincar, brincar de verdade, brincar com outras crianças, brincar próxima à sua mãe, brincar descalça e livre, sorrindo e cantando.
A história desta menina do Recôncavo baiano, é de Maria Luiza Gomes, mas é minha também que tive a felicidade de ter  sido uma criança que  brincou na fonte com outras crianças e próxima à sua mãe, criança que brincou na rua, menina livre com cabelo desgrenhado que amou as histórias, a poesia e que cresceu, mas continuou menina.
Obrigada, Maria, por sua história de amor com o rio Subaé de Santo Amaro da Purificação - BA.
Você é uma menina linda!

Gilmara Belmon

ORAÇÃO MUDA

ORAÇÃO MUDA

Anseio por falar contigo,
Meu Deus,
Faltam-me palavras
Tenho tanto a dizer,
Mas o silêncio toma o seu assento
E eu  emudeço diante de Ti
Estou aqui
Sei que estás também,
E isto é tudo agora
Não consigo dizer o que preciso,
Apenas sinto,
Sinto uma vontade louca
de me atirar em teus braços
e chamar-Te:
"Pai!"

Gilmara Belmon

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

VISITA





Preciso urgentemente
Visitar um jardim,
Porque sinto fome, 
Fome de flores

Quero estar entre elas 
Sentir seu perfume
Contemplar sua beleza
E experimentar seus sorrisos

Quero igualmente sorrir para elas,
Corresponder-lhes o carinho
Quero ser por elas fitada
e ouvir seu silêncio

Espero que esta visita
Não seja nem curta nem longa,
Mas que dure o tempo suficiente
Para colocarmos  a ternura em dia.

Entretanto, não quero ir sozinha 
Preciso de testemunha
Temo que após a visita
Eu não acredite em mim

Gilmara Belmon




sexta-feira, 24 de agosto de 2018

TEUS VERSOS DE OUTRORA


TEUS VERSOS DE OUTRORA

Quis devorar teus versos de outrora,
Mas para tê-los sempre comigo,
Preferi guardá-los para degustá-los
a qualquer hora

Guardei todos os versos que fizeste
para mim e para tudo
No meu caderno permaneceram anos a fio
De quando em vez eu pegava experimentava,
Eram sempre novos para mim

Por muito tempo cumpri este rito:
Quando a fome me visitava,
Eu pegava o caderno e comia teus versos
porém eles não se consumiam

Fiquei um tempo sem visitá-los
Parecia que novos versos
me roubaram de tua poesia
Porém um dia, bateu a saudade
E quando peguei o caderno
Para comer poesia
Não havia mais versos
Nenhuma página havia

Que ilusão a minha
Acreditar que bastaria guardar
o tesouro e ele perduraria,

Como doeu perdê-los
Como doeu não tê-los todos
A fome aperta nesta hora
e eu não posso comer teus versos de outrora

Maldita esta minha mania
de querer aprisionar o que me faz feliz
Não tivesse engaiolado teus versos,
Agora os teria todos
não apenas para mim

A poesia é um pássaro em pleno voo.

Gilmara Belmon


Ao meu amigo L.O. Márcio, cujos poemas de outrora guardei num caderno por muitos anos. No ano passado doeu-me  encontrar o referido caderno destruído pela traça .

À MESA



À MESA

Entre a noite que partia
E o dia que se anunciava
Do silêncio do seu templo,
O poeta voou até a mim
E convidou-me para ceiar com ele.
Sentamos à mesa,
Comemos poesias no mesmo prato,
Bebemos encantamento na mesma taça.
Toda vez que esvaziávamos
o prato e o copo,
Ele me perguntava se eu queria mais
E do fundo da minha alma,
Eu respondia: " Quero."
Cada poema comido e saboreado
Gestava mais fome em nós,
De modo que os olhares e sorrisos que
trócávamos eram de fome e de deleite
Comemos, bebemos, degustamos
repetidas vezes
Após a última poesia,
O poeta desapareceu.
Encantada, eu permaneci à mesa
E o poeta permaneceu em mim

Gilmara Belmon

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A TEIA DA VIDA



A vida é feita de dons e tecituras
Nós somos o que nos é dado e o que construímos

Eu  sou
Nós somos
Uma bela tecitura
Cujos fios foram tramados
No amor e por amor

O tecido  que nos constitui
É inacabado
De modo que na existência
Tecemos diuturnamente o nosso ser

Quantas vezes  nossos fios
se embaraçam na urdidura da vida
E tudo parece perder o rumo,
O prumo,
O sentido,
Mas quantas vezes
De um emaranhado
Surge um belo e renovado tecido?

Gilmara Belmon

Foto: Carmem Lucia de Jesus


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

DEGUSTAÇÃO DA LEITURA



Bendita seja a fome dos degustadores da palavra
Eles são leitores insaciáveis
Quanto mais saboreiam palavras,
Sua fome aumenta

A fome da leitura a gente mata
Momentaneamente,
Porque o que a gente quer mesmo
É que ela exista e aumente

Cada livro saboreado nos ensina a olhar e ver
Rever e ver de novo de diferentes formas,
Cores, sabores e aromas

E a leitura amplia os meus sentidos:
Saboreio as cores
Ouço os sons das imagens 
Cheiro e vejo os sons
Toco as metáforas

Os textos me leem maliciosamente
E se me escondo de mim mesma
Eles me revelam a mim
O que há de silêncio em meu ser,
Eles vociferam

Os escritores são bruxos, magos,
Mágicos, videntes
Como sabem tanto da gente?
Eles desenham as coisas da vida
Cozinham aventuras para todos os gostos
Costuram paixões e afetos
A pena é a sua arma, 
Sua agulha, 
Sua colher de pau
Os livros, a prova do crime

Os escritores têm o poder de produzir 
A fome de encantamento e a sua saciedade
Cada livro degustado, ruminado, devorado
Nos empurra para frente, para cima
A gente se apropria dele, 
Ao passo que ele se apropria da gente

O livro que li, que me leu, que comi, degustei
É meu e ninguém rouba isso de mim
E o que ele me deu, acrescentou, iluminou, acendeu, despertou
Me leva a criar, voar, crescer e amar
 
Na biblioteca e na livraria
Reconheço o meu lugar
Me embriago, me deleito
No livro é que eu me acho
No livro é que eu me perco

Gilmara Belmon

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

CAMINHAR E ESCREVER


No meu ofício de caminhar
Que não me faltem chão
Céu, flores e companhia

No meu ofício de escrever
Que não me faltem
Espanto, beleza, encanto e poesia

Caminhar se parece com escrever
O lápis caminha no papel
Os pés escrevem no chão

Para o artista da palavra,
Chão é papel
Papel é estrada

Chão e papel
Quantas possibilidades!
Tanto por construir e escrever
Tanto por caminhar, derramar
e viver

Punho e pés
Livres no ofício de caminhar
Livres no ofício de dizer

O artista da palavra escreve
no chão da vida enquanto caminha.
Se parado, não pode escrever

Gilmara Belmon

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

AMAR NO INFINITIVO



Quanto mais amor espalharmos,
Mais chances teremos
de nos esbarrarmos  com ele no caminho

Quanto mais gentileza derramarmos,
Mais chances teremos de  encharcar
os outros e a nós mesmos de leveza

Quanto mais exalarmos afeto,
Mais chance teremos de afetar
os que de nós se aproximarem,
Pois deixaremos neles
um pouco do nosso perfume

Quanto mais sorrisos ofertarmos,
Mais chances teremos
de iluminar aqueles que passam por nós
e de  sermos por eles iluminados

Quanto mais nos fizermos presentes
Mais chances teremos de não ficar sozinhos

Não há diferença entre dar e receber
Como não há diferença entre doar e doar-se
Amar é também uma forma de amar-se

Gilmara Belmon

ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...