quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Um Reino, o Amor e o Ciúme






Era um grande Reino, o Reino do Amor.

Lá se celebrava o Amor como nenhum reino havia feito em toda a história da humanidade.

Compositores criavam odes ao Amor, dançarinos criavam suas coreografias,

Os altares onde se adorava o Amor e se lhes ofertavam sacrifícios eram de todos os reinos os mais belos e perfumados.

Nas celebrações, a mesa era farta, como as ofertas também. Mas ao menor destaque de um ministro, os outros ministros se enchiam de ciúmes, ficavam vermelhos, cegos e sisudos.

Se um ministro do Rei da segunda ordem demonstrasse talento para o canto, os ministros da primeira ordem, em reunião extraordinária, editavam leis que proibiam o canto nas celebrações.

Quando outro ministro apresentava exímia oratória, lá vinha novamente o aviso da reunião urgente para proibir as pregações nas celebrações.

Quando o ministro da dança emocionou a todos com sua criatividade e leveza, os demais ministros se reuniram e decidiram que a dança fazia mal aos olhares do povo. 

Um dia um ministro da segunda ordem questionou o fato de as reuniões extraordinárias, pouco a pouco, se tornarem ordinárias, e um ministro, sem que o rei soubesse, cassou a investidura do ministro questionador.

“Cumpra-se a lei, não a questione!” Era o lema.

Os ministros da primeira ordem se congratulavam por não surgirem outros ministros tão “sábios” que lhes pudessem substituir um dia.

Vez ou outra aparecia um ministro com talentos e logo evocavam a reunião extraordinária.

E foi assim que a prepotência e o ciúme entre os ministros tornaram frias e vazias as celebrações ao Amor, não havia mais o canto nem a dança, não havia pregações e nem questionamento.

Com isto, o povo foi se esfriando, foi percebendo e por isso se cansando daquelas celebrações ao Amor sem a presença dele, daqueles encontros de amorosidade aparente, de ciúme encoberto de amor, que clamou ao Rei por uma assembleia extraordinária. No dia da assembleia, o povo exigiu do Rei uma lei que proibisse a entrada do ciúme e da prepotência nos gabinetes dos ministros.

O Rei prometeu estudar o caso e, preocupado com as consequências desta nova lei, ele se questionava:

“E se não houver ministros conforme a exigência do povo?”

Mesmo assim, o rei prometeu ao povo que iria pensar. E o povo aguarda ansioso por sua resposta.





Onde imperam o ciúme e a prepotência, o amor pode até entrar, mas lá não se demora.

Gilmara Belmon


ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...