Neste Blog você encontrará textos literários de minha autoria e de outros autores. Nele irei compartilhar também minhas experiências de leitura.
domingo, 28 de julho de 2019
COSTURAR SONHOS
Saudade da antiga máquina de costura de mainha.
Saudade de quando eu cabia em seu pedal.
Ali em baixo eu me escondia do mundo e do tempo. Eu não iria crescer, a minha infância tinha sabor de eternidade.
Eu girava aquela roda de um lado para outro e viajava para onde meu coração de menina queria ir.
Ali eu passava horas a fio costurando sonhos.
Não me lembro dos anos, não lembro da minha idade, só sei que eu era menina.
A máquina de costura era um instrumento do ofício de mainha, mas para mim, ela era uma máquina de fazer sonhar.
Para mainha era uma máquina de costurar roupas, para mim era máquina de costurar sonhos.
Tudo em mainha é abrigo.
Gilmara Belmon
quinta-feira, 25 de julho de 2019
RAINHA TEREZA DE BENGUELA
Oh, mulheres negras,
Contem e recontem aos seus filhos
E aos filhos dos seus filhos
Que somos filhos da resistência à opressão
Façam ecoar em todo tempo e lugar
De geração em geração
As histórias não contadas
Daqueles e daquelas
Que resistiram à escravidão
Não aceitem as imagens dos
Dos negros e negras
acomodados e obedientes
Contai sobre os negros e negras
rebelados e resistentes
Lutando por libertação
Contem a história de uma mulher negra
Cujo ideal de liberdade
Fez dela Rainha da resistência
Falem da sua vida marcada por lutas
Falem da sua força e poder
Ao liderar o Quilombo do Quariterê
Falem da sua capacidade
De organizar o seu povo
E com ele construir uma sociedade
Com fome de liberdade
Oh, mulheres negras,
Ao fazer ecoar tais histórias
Lembrem-se de que suas vidas são uma peleja
Vocês são mais oprimidas do que as demais
Tomem por espelho a vida da Rainha Tereza
Unam-se e lutem por seus ideais
Gilmara Belmon
quinta-feira, 18 de julho de 2019
MENINAS NEGRAS DE ONTEM/ MENINAS NEGRAS DE HOJE
Subjacente aos olhares das meninas negras
de hoje,
Eu vejo as histórias não contadas das meninas negras de ontem
Nas entrelinhas das palavras das meninas negras de hoje,
Eu leio as palavras escritas e apagadas das meninas negras de ontem
A luz do sorriso das meninas negras de hoje
Ilumina o sorriso das mulheres negras de hoje
Que ontem também foram meninas
As meninas negras de hoje
sabem mais do que as meninas negras de ontem
Que a beleza dos seus cabelos
deve ser assumida e não escondida
As meninas negras de hoje
sabem da riqueza da sua negritude
e, com suas atitudes,
Ensinam às meninas negras de ontem
(Hoje mulheres ),
que elas nunca foram pardas
As meninas negras de hoje são empoderadas
E todas trazem consigo a herança
das histórias das meninas negras de ontem
cuja identidade racial fora negada
As meninas negras de hoje,
diferente das meninas negras de ontem,
Não se deixam intimidar
Ninguém determina qual o seu lugar
Não é que as meninas negras de hoje
encontrem facilidades
O racismo e a desigualdade são duras realidades,
Mas diferente das meninas negras de ontem
que sofriam caladas e reprimidas,
As meninas negras de hoje
falam com suas vidas e não se dão por vencidas
Gilmara Belmon
Créditos da imagem: Cléber Marques
quinta-feira, 11 de julho de 2019
DESUMANIZAÇÃO DA POLÍTICA/ DESPOLITIZAÇÃO DA HUMANIDADE
Despida de um olhar viciado,
Pois meu ser parece cansado do que vê
Às vezes me questiono:
De que matéria somos feitos
Nós, os oprimidos e explorados?
Onde pisam os nossos pés?
Pois nos recusamos a acreditar
no que vemos e ouvimos?
A ganância e a indiferença
Tomando conta da humanidade,
Os interesses individuais
Prescindindo dos interesses coletivos
O que é mesmo SER HUMANO?
O “eu” usurpou o lugar do “nós”
E ninguém mais se reconhece como
Coabitantes desta grande CASA
Quem dirá como irmãos
Fizeram da política uma podridão
E assim cada vez mais os íntegros
Se cansam e se afastam dela
Se os que têm sede de justiça
odeiam a política,
Ela se despe de humanidade
E os desumanos se apoderam dela
Ah...lobos que nem mais se ocupam
Em se travestir de cordeiros
Apresentam-se como lobos mesmo!
A exploração das "ovelhas"
Constitui motivo para suas farras,
Porque da exploração advém seus lucros,
Da corrupção advém suas riquezas!
Desgraçados eles, opressores!
Desgraçados seus defensores!
Desgraçada e desumana "política"!
Desgraçada a religião forjada
Cujos pastores se beneficiam
da exploração de suas ovelhas
Desgraçadas a educação e a religião
que apassivam e oprimem,
mas não emancipam,
Não libertam
Alienados os que perguntam:
O que será de nós?
Mas conformados, não resistem
E nem põem a mão no arado com os demais.
Gilmara Belmon
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