terça-feira, 23 de outubro de 2018

CON-VERSA COM DEUS


Se converso com Deus?
Claro que converso,
Ou melhor, con-versamos!
Ele volta-se para mim
E eu me volto para Ele
E então, permaneço em Sua companhia!
Mas esse encontro entre o divino e o humano
Não se dá assim sem mais nem menos
Eu me preparo para encontrá-Lo
E não se trata de arrumação do corpo,
Falo da arrumação do espírito
Preciso me desfazer de alguns adereços
Que pesam, mas não acrescentam
E de vestes que enfeitam e mascaram,
Mas não edificam,
Enfeites que só
Contribuem para me afastar
De quem realmente sou
E, me afastando de quem sou,
Afastam-me de Deus!
Preciso esvaziar-me
Dos palpites e ideias que teria para lhes dar
E, das quais, Ele não precisa,
Nem sequer pediu!
Preciso esvaziar-me das intermináveis justificativas
Por não ser nem de longe aquilo
Que Ele espera de mim,
E paradoxalmente, estando vazia
Preciso ter algo dentro de mim,
Preciso manter acesa a chama do que fui,
Do que sou e do que preciso ser
Volto-me para Ele com a minha história
Revelada nas marcas do meu corpo
E da minha memória
Nas dores do meu corpo e da minha alma
Nas alegrias e esperanças
Que alimento em meu coração.
Deus e eu con-versamos
Às vezes sem falarmos nada
Às vezes ao som de uma canção
Às vezes com trechos da Palavra
Às vezes com lágrimas
Uns sorrisos, uma reflexão
Tudo isso é tão forte, quanto belo!
Bela também é a ressonância,
A reverberação
Que esta conversa causa em mim
Sinto-me em paz e inquieta
Inteira, leve e intensa
Entretanto, algo me toma ao término da con-versa,
Que em verdade não termina:
Ele fica em mim
E eu Nele
E a graça de estar Nele
Ele estando em mim
Não me permite aquietar-me,
Acomodar-me,
As minhas conversas com Deus
Sempre me empurram para alguma ação,
Alguma atitude,
Menor que seja,
No aqui e agora da minha vida.

Gilmara Belmon


sábado, 20 de outubro de 2018

POEMA PARA GEORGE



Poema para George

Pelo teu olhar de poeta
Eu amei as flores, 
as borbetas,
o rio e o vento

Pelo teu cantar de poeta
Eu amei a vida 
A tua voz acarinha meus ouvidos
e acalenta o meu coração

Pela tua poesia
Eu aprendi a ver grandeza
Na pequenez das coisas 
Na ordem do dia

Bendita a poesia,
Por ela, Deus trouxe a tua existência 
para a minha

Gilmara Belmon









quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A metáfora,
tal qual punhal,
invade meu peito
O sangue que sai de mim
derrama-se em versos
Quando leio poesia
e ela me lê
a gente se afeta

Gilmara Belmon

domingo, 14 de outubro de 2018

AOS MESTRES, COM CARINHO!



Aos meus professores da Educação Infantil ao Mestrado,
Aos professores que já coordenei, formei e com os quais lecionei,
Aos professores da Rede Municipal de Ensino de Terra Nova,
Aos professores da Rede Municipal de Ensino de Amélia Rodrigues
Aos professores dos meus filhos,
Aos meus amigos professores,
A minha admiração e reconhecimento!

AOS MESTRES, COM CARINHO

Indignai-vos!
Não naturalizeis o desrespeito com que a vossa profissão é tratada, não naturalizeis a desvalorização profissional, não naturalizeis a violência sofrida por muitos de vós, nem a crise educacional em nosso pais.

Inquietai-vos!
A vossa inquietação tem o poder de inspirar e inquietar a muitos.
As grandes transformações nasceram de inquietações.

Encantai-vos!
Quanto mais encantados estiverdes, 
A vossa mediação fará com que a construção do conhecimento seja uma tarefa encantadora.

Conscientizai-vos!
Professores conscientes da sua pertença à classe trabalhadora
Jamais darão aulas descontextualizadas dos aspectos sociais, econômicos e políticos!
Jamais ficarão passivos diante da violação dos seus direitos e da falta de respeito para com a sua profissão.

Esperançai!
Professores esperançosos não desistem dos seus alunos mais difíceis,
Não os desencorajam diante das dificuldades, não os rotulam, não creem no seu fracasso.
Professores esperançosos acreditam no que fazem  e não desistem de  lutar.

Uni-vos!
Professores que se unem em prol de uma causa, seja ela trabalhista, seja ela pedagógica, seja ela social, seja ela humana, têm mais chance de conquistá-la.

Lutai!
Professores que não lutam, que se acomodam diante das injustiças, professores que não se engajam em projetos pedagógicos, políticos, sociais, jamais cumprirão com seu papel de formar cidadãos. Professores que anseiam por dias melhores e não lutam por eles estão sendo contraditórios.

Comprometei-vos!
É impossível ser professor e não ser comprometido. Professores são necessariamente comprometidos com a aprendizagem dos seus alunos, com a função social da escola, com a transformação da sociedade.  São, antes de tudo, comprometidos consigo mesmos, com seus ideais, com seus valores, com seus princípios.

Alegrai-vos!
Reconhecei as conquistas, reconhecei quando fordes valorizados pelos vossos alunos, pelos vossos colegas, pelos gestores, pelos pais dos alunos, pela sociedade. Alegrai-vos com as conquistas da  escola, dos vossos alunos e  ex-alunos e com as  próprias conquistas.

Libertai-vos!
Libertai-vos da alienação, da consciência ingênua, do comodismo, dos queixas que não levam a nada, da cegueira que vos impede de enxergar o que inviabiliza o exercício da vossa profissão.

Amai-vos!
Amai a educação, vossos alunos, mas antes amai a vós mesmos. Professores que não se amam, não cuidam de si, não reconhecem seus limites, nem suas qualidades, de que forma poderão dar vida ao seu ofício?

Eis a sistematização daquilo que aprendi com todos vós em todos estes anos, é o que desejo que todos vós cultiveis: indignação, inquietação, encantamento, conscientização, esperança, união, luta, valorização profissional, comprometimento, alegria, libertação e amor.

Gilmara Belmon



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A VOZ DO MEU JARDIM

                  Foto: Ludmila Cavalcante

A esperança conjugou o verbo florescer
bem aqui no meu jardim.
Ela não fez alarde, não gritou!
Apenas floresceu e eu ouvi!
Mas por pouco eu não percebia,
Pois a desesperança também chegou aqui,
E diferente da esperança,
Alardeou no meu juízo,
Invadiu minha alma,
Exigiu lugar nas minhas crenças.
Eu que sempre hospedei bravura e ousadia,
Enxotei a desesperança de mim.
Como pode ela vir assim me assaltar e
constituir-se em ameaça?
Não lhe dei guarita,
Não gastei  tempo com ela.
Em meio a angústia que me rodeava,
Eu não entreguei os pontos,
Nem deu tempo de chorar,
de sofrer, de desitir,
apenas de me indignar
até o momento da ficha cair.
Eu vi a esperança florescer
E tratei de  amar as flores
que deram voz ao meu jardim,
"Tomei um copo de coragem,
um copo e meio", como disse o Chico,
Chamei outros indignados como eu
e tratei de ir à luta.
Quando me disseram que não havia mais  nada a fazer,
Eu ouvi a voz do meu jardim
me ofertando um cacho de possibilidades.

Gilmara Belmon

sábado, 6 de outubro de 2018

ABSTENHAM-SE DO ÓDIO


Há muitos pratos sendo servidos
Que não devem ser comidos,
Temperados com ódio e intolerância,
São mais veneno do que alimento

O ódio tomou seu lugar à mesa
Fizeram dele o prato principal
Como se fora a única possibilidade
Frente às diversas fomes da humanidade

Como podem os  intolerantes impor o seu cardápio a todos os comensais?
Como se todas  as fomes e gostos fossem iguais?

Enquanto o  ódio for servido como única verdade,
A  mesa nunca será lugar de partilha e comensalidade

Na mesa em que servirem o ódio,
Entre alimentar-se dele e passar  fome,
Escolha a fome!
O ódio jamais poderá mediar
a busca pela saciedade da nossa fome
de fazer do mundo uma grande mesa,
onde reinarão a justiça e a paz,
porque o prato principal será o amor.

Gilmara Belmon

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

ÉS O QUE ESCREVES





És o que escreves
Nas ruas da tua vida

És o que escreves
no coração das pessoas

És o que os outros leem
nas linhas e entrelinhas do teu ser

És os textos que teces,
Mas também os que lês e relês

És o que és capaz de ver,
interpretar e transcender

És o que rasuras, rabiscas e apagas,
Mas és, sobretudo,
A tua ousadia em reescrever

Gilmara Belmon


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

AMANHECER





Amanhecer
É um exercício de esperançar
É poder sorrir
Depois de uma noite inteira a chorar

Amanhecer
É acordar
A-cor-dar

É florescer
É respirar
É ver o botão se abrir
É ouvir o galo cantar

Amanhecer
É se deixar iluminar
pelo sol que está a nascer

Amanhecer é agradecer
Por mais um dia de graça
Por ter a chance de recomeçar e
Amar de novo
Sorrir de novo
Refazer o caminho
Retomar
Reencantar
Repensar
Refazer
Amanhecer a pesar de...

Amanhecer é,
tal qual o sol,
nascer de novo
Para aquecer a frieza da vida
Para transformar em luz
as trevas de alguém

Amanhecer é aquecer
Amanhecer é iluminar

Gilmara Belmon

Foto: Valdemar Ferreira
Local : Terra Nova

ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...