domingo, 27 de agosto de 2017




QUINTAL DA POESIA

A janela do meu quarto dá para o meu quintal
E nele  cabe o universo
Aqueles muros que pensam demarcar
Os terrenos dos vizinhos e o meu
Não limitam o meu quintal
Nele habitam metáforas
E metáforas são aladas
Nada as aprisionam

Do meu quintal,
Desperta-me  o canto do galo de João Cabral de Melo Neto
Que, com outros galos, tece as minhas manhãs
À tardinha ouço o canto orquestrado
dos afinados bem-te-vis de Cecília Meireles
Quando chega a noite, o meu quintal é iluminado
Pela lua de Fernando Pessoa que brilha linda, inteira e alta vive

No meu quintal há tantas flores e árvores belas e diversas
Que mais parecem as do jardim do gigante egoísta de Oscar Wilde
Nele há crianças brincando barulhentas e felizes.
Dentre elas:
A menina que tinha medo da adultez,
O menino que brincava com o sopro divino,
O menino de Mia Couto que escrevia versos,
E o pequeno menino Deus a quem o gigante ajudou a subir na árvore.
Ah, nele também brinca a menina de Rubem Alves
Que tinha como amigo um pássaro encantado

Ah, o meu quintal,  
De vez em quando o vento de Mário Quintana beija o meu rosto
Deixa em mim o seu perfume e canta canções de amor 
De vez em quando  a chuva desfolhada por Mia Couto
Cai, beija o chão e toca nas flores, nas árvores, nas crianças, em mim.
Tudo se renova!

Neste quintal, passeia, dança e canta a poesia
Impossível seria o amor não entrar,
E sempre o desejo de Drummond
de ouvir “eu te amo” repetidas vezes
Toma conta do meu ser
E assim, no meu quintal da poesia,
Os meus dias se enchem de encanto e de amor,
À luz da Palavra, eu não me perco

No meu quintal se entranham o humano e o divino
A luz e a sombra, a memória e a esperança
A vida que vivi e a que irei viver
Experimentando o amor eu não corro risco de ódio
Poetizando a vida, a esperança, o sagrado daqui do meu quintal,
Como profetiza Adélia Prado,
A poesia me salvará!

Gilmara Belmon

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