segunda-feira, 30 de outubro de 2017

CORAGEM




Pegaram papéis coloridos
Cortaram em forma de coração
E costuraram o meu dia
Fizeram assim sem me pedir permissão
Em cada coração escreveram uma palavra
E dentre as muitas escritas
Estava a palavra coragem
Eu a guardei
Porque tive medo dela
Mas ela insistiu em aparecer
Guardei-a de novo
E ela corajosamente,
Insistentemente apareceu
Pegou em minhas mãos
E se apresentou, dizendo:
CORAGEM!

Gilmara Belmon



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

CUIDAR AMANDO, AMAR CUIDANDO

Há uma superioridade em quem cuida
No momento exato em que cuida
O outro se encontra ali
Vulnerável debaixo de suas asas
Com a alma entregue aos ouvidos
Ansioso para ser escutado
Até mesmo em seu silêncio
Coração inquieto
À espera de um a chama que lhe esquente
E lhe devolva o sorriso
Ah, mas cuidado!
Há uma linha tênue
Que dança entre o cuidado que ama
E o cuidado que domina
O primeiro liberta
O outro oprime
Por trás do cuidado que acolhe e liberta
Há sempre o amor semeado, gestado, cuidado
Por trás do cuidado que domina e infantiliza
Há o desejo de posse
Semeado, gestado, cuidado
Um coração machucado demanda cuidado
Que ama e cura
Há uma superioridade em quem cuida
No momento exato em que cuida
Há superioridade no ato mesmo de amar cuidando

Gilmara Belmon





domingo, 15 de outubro de 2017

À HUMANIDADE


À HUMANIDADE


Diante das inúmeras portas
Que a vida, vez ou outra,
Apresenta, desafia, impõe aos educandos,
O educador é aquele que
provoca os estudantes a pensar
sobre estas portas,
Desafia-os a olhar para além delas,
a escolher uma ou algumas delas
E até mesmo, a partir delas,
Construir outras portas.

O Educador, por vezes,
não tem a chave para todas as portas
E, ainda que tenha pra algumas delas,
propicia aos educandos a construção
das chaves para que eles experimentem
A aventura e a complexidade
do aprender construindo conhecimento.

E neste encantamento que o educador
Tem o poder de despertar no ato
de ensinar, construir e desafiar,
Os educandos aprendem sobre fazer ciência,
Ao mesmo passo em que aprendem a descobrir-se como seres humanos e inacabados, com várias possibilidades de serem o que sonham.

É nesta relação entre educador, educando e conhecimento
que várias portas se abrem
Até mesmo as que o educador não havia planejado abrir
e outras que ele nem imaginava que poderiam existir.
O ser humano é sempre uma novidade
E o educador, humano que é, se faz e se refaz enquanto educa,
No ato de educar, ensina sendo o ser humano que se constrói.
Enquanto educa se humaniza e humaniza os educandos.

Os educadores são seres possuídos pelo sonho de uma humanidade mais humana e assumem no seu ofício a tarefa de classe de lutar por este sonho.

Quem poderá compreender esta causa?
Quando a humanidade reconhecerá esta causa?


Gilmara Belmon
15 de outubro de 2017
Dia do Professor

sexta-feira, 13 de outubro de 2017



Perdoa o meu ócio
Pois é nele que provoco o que há
De misterioso em mim
Mergulho em meu ser
Deito-me nas memórias
E cubro-me de fantasias
Escorrem de mim
Confissões
Declarações
Recordações
E as mulheres e as meninas
Que me habitam
Não se cansam de dizer
Uma delas se revela na madrugada
Outra no amanhecer
Uma menina floresce em mim
A cada poesia que recebe
Outra, a cada poesia que escreve e doa
E doando poesia, ela se doa também
Mas há em mim
Uma mulher intrigante
Teimosa e atormentada
Não se satisfaz com nada,
Assim como a menina,
Ela também escreve
Escreve num parto que se renova sempre
Ao parir, ela se desmonta, se despedaça,
Sangra, grita e chora silenciosamente
E, tendo dado à luz ao escrito,
Seu corpo sorri para a vida
Ah estas mulheres,
Estas meninas
Ninguém as vê  com o olhar viciado
Para enxerga-las é preciso despir os olhos
Elas só podem ser lidas nas entrelinhas
Ah,  este ócio que vez ou outra me permito viver
Salva-me dos dias escarpados.

Gilmara Belmon

terça-feira, 10 de outubro de 2017

MEUS VERSOS



Meus versos
Têm cor, cheiro, sabor,
Peso, forma, tamanho, corpo e alma.
Por vezes têm nome e sobrenome,
Eles têm voz, asas, lágrimas e sorrisos.
Meus versos não são imparciais,
Não ficam em cima do muro,
Mesmo quando escondem,
Mesmo quando não dizem nas linhas.
Tenho versos carregados de indignação,
Outros expressam a leveza do coração.
Escrevo versos vazios pela tristeza,
Outros transbordantes de alegria
Tenho versos amargos
E versos igualmente doces
Versos raivosos e versos amorosos,
Versos escritos com sangue
E versos bordados com lágrimas.
Meus versos têm os nomes daqueles
Que os saboreiam
Neles cabem tantos quantos forem capazes de amá-los,
de guardá-los , de se deixarem seduzir por eles.
Meus versos traduzem coragem e temor
São guardiões de segredos e respostas
São prisioneiros do que escondem
E são livres pelo que revelam
Eles choram e gritam
Silenciam e gemem
Meus versos 

Gilmara Belmon

ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...