Ele sempre me assusta
Às vezes me deparo com ele
nas ruas da minha vida
E sou tomada pelo espanto
Há dias em que nada me ocorre
Nenhuma canção chega aos meus ouvidos
Nenhuma flor nova se abriu no meu jardim
E justo ali, naquele nada a beleza acontece
Há dias em que a poesia me visita
pela boca de um amigo
As flores me encontram pelas mãos
de quem se lembrou de mim ao vê-las
E a beleza toma todo o meu ser
Não me acostumo com o belo
Em dias cinzentos
Em que a tristeza me pega de jeito
E não se aparta de mim
A beleza me surpreende
Quando a memória de quem me ama
Me leva a lugares lindos
com cheiro de flores,
Eu permaneço triste, mas consigo florir
Não me acostumo com o belo
Beleza é deleite
Deleite é efemeridade
Nasce, deixa-nos inebriados e morre
Não creio que se possa buscar o belo
Ele simplesmente acontece
Assim sem avisar
Não está na coisa que vemos
Nem no nosso olhar
Está neste ir e vir
Entre o olhar do coração de quem admira
e a coisa admirada
É como o amor
Que está entre o ir e vir do querer bem
É amada a pessoa que ama
É amante a pessoa amada
Assim é a beleza
É belo quem admira
É bela a coisa admirada
Gilmara Belmon
Fotos: Jáder Ferreira
Local: Casa de Jorge Amado e Zélia Gatai, Rio Vermelho, Salvador- BA