sábado, 19 de janeiro de 2019

O PORQUÊ




Porque passei pelo breu,
Celebrei a chegada da luz

Porque enfrentei o medo,
Conheci  a coragem

Por causa das quedas,
Eu  aprendi a levantar

Porque sofri de ausências,
Dei-me conta do valor das presenças
Por causa da distância, afetou-me a saudade

Quando as fomes e a indignação me tomaram,
Eu aprendi a lutar

Por causa do horizonte,
Eu não desisti de  caminhar

Por causa da sede,
Eu me desintalei para ir em  busca da fonte

Eu preciso do conforto das linhas retas
Tanto quanto preciso dos desafios das linhas sinuosas

Eu preciso da estrada íngreme
Tanto quanto preciso da estrada plana

Eu  preciso da planície,
Mas também da montanha

O sofrimento é doloroso,
Mas há lições que só ele pode ensinar

Foi por causa da minha inquietude diante da vida,
Que me arvorei na busca do conhecimento
E também  apendi a sonhar

Se não há uma causa,
Não há porque existir
Não há porque esperançar

Gilmara Belmon

Créditos das imagens: Valdemar Ferreira e Alan Bacelar


sábado, 12 de janeiro de 2019

POR ORA




Aquiete os seus anseios
Acalme o seu coração
Adormeça os seus  desejos
Transforme preces em gratidão

Dê uma trégua em suas lutas
Esqueça um pouco as batalhas
Guarde a revolta, o grito
Descanse as suas causas

Desague suas angústias
Silencie suas dores
Acaricie a sua alma
Lembre dos seus amores

Aprenda a olhar
Em tudo há novidade
Olhe o horizonte
Ame de verdade

Gilmara Belmon

Fotos: Valdemar Ferreira

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER



Basta olhar ao redor,
Não muito longe de nós mesmos,
Quantos famintos!
Quantas fomes!

Corações piedosos
Por vezes, contentam-se
em  sacudir o Mestre,
Que parece não enxergar
a fome que assola a humanidade,
e clamam a Ele que resolva a situação
tão incômoda aos seus olhos.

Corações piedosos,
por vezes,
despedem o faminto com um
“Deus há de saciar a tua fome!”
- É só o que podemos fazer! Justificam.

Que tal aderir ao imperativo do Mestre?
“Dai-lhes vós mesmos de comer!”
Mas, “Não dê o peixe, ensine a pescar”, é o dito popular!
Dar o peixe é se conformar às injustiças deste mundo,
É saciar a fome momentânea sem restituir a dignidade.
Ensinar a pescar é reverter a ordem das coisas,
É amenizar  a produção da  fome tão útil aos poderosos,
entretanto, não basta saber pescar,
se muitas vezes, não há condições para tal.

Mas, o “Dai-lhes vós mesmos de comer”
É maior do que tudo isso!
É trabalho, partilha, amor, justiça,
Política!
É não transferir ao Divino
A responsabilidade humana,
É mais do que dar o peixe,
É mais do que ensinar a pescar,
É lutar para que todos
Tenham vida plenamente,
É sentir as fomes com os outros
É sentir a fome dos outros
E deles se aproximar
Com eles e por eles lutar
Por um outro mundo possível
No qual  ninguém morrerá de fome,
De nenhuma fome!
Antes, a fome será um instrumento
para buscarmos continuamente,
insistentemente a nossa auto-realização,
A nossa vocação de SER MAIS
A nossa e a dos outros!

Gilmara Belmon

domingo, 6 de janeiro de 2019

VIMOS A TUA LUZ


Eu vi a Tua luz
E vim adorar-Te
Saí de lá do meu comodismo,
Pois Tua luz me desinstalou
E me fez caminhar até aqui

Ao longo da caminhada,
A Tua luz iluminava a estrada
Percebi que eu não estava sozinha
Comigo caminhava quem
Tinha as mesmas fomes que eu
E com eles eu vi a Tua luz

Vimos a Tua luz
Nas  mãos que preparavam o alimento
Para saciar a fome de outros

Vimos a Tua luz
Na  boca de quem anunciava
A tua Palavra  e a servia como alimento
Para a fome  da alma de muitos

Vimos a Tua luz
Nos pés de quem seguia
Os Teus passos
Na luta por  um mundo  fraterno

Vimos  a Tua luz
Naqueles que tinham  tempo para servir
Naquelas que  costuravam palavra e vida

Vimos a Tua luz
Nos sedentos de justiça  e de cidadania
Nos famintos de amor e de alegria

Vimos a Tua luz
Nos olhares esperançosos
Nos inquietos e comprometidos
Nos pobres  desvalidos
Nos humilhados e esquecidos

Vimos a Tua luz
E viemos Adorar-Te
Não trouxemos nenhuma oferta
Além da sede de construir
O Teu Reino no meio de nós

Gilmara Belmon

06 de janeiro de 2019
Domingo da Epifania do Senhor

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

DECRETO DA ESPERANÇA


Se eu pudesse baixar um decreto
No primeiro dia deste ano já em curso
Decretaria que todos se engravidassem
Sim, que se engravidassem de ESPERANÇA

O decreto não valeria somente para as mulheres
Pois os homens a cada dia precisam engravidar-se
Gerar mais amor, permitir-se mais viver, SER

Não valeria apenas para as mulheres que nunca engravidaram
Valeria também para aquelas que esqueceram a fecundidade
E se deixaram tomar por tudo que significa menos FEMINILIDADE

O decreto teria jurisdição sobre os consagrados pelo Reino 
Possibilitaria que a ternura acompanhasse mais as suas ações
Conscientizar-nos-ia ainda mais de que somos peregrinos
Da vida plena que se esconde em cada gesto de AMOR

Este decreto reconhece que todos nós temos fome
De pão, feijão, arroz, gestos de bondade, fraternidade
De que a crise esteja de passagem temos NECESSIDADE

No final de tudo
Quando o horizonte parecer mais próximo
Decretaria o fim deste decreto

Pe. Júlio César Santa Bárbara

ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...