sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A BAILARINA ( CECÍLIA MEIRELES)


                                       

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.







segunda-feira, 25 de setembro de 2017

NINGUÉM VÊ




Ninguém vê o inchaço

nos dedos dos pés

da bailarina por dentro

da sapatilha que brilha

durante o espetáculo



Ninguém vê os calos nos dedos

Do violonista que se escondem

Por entre as notas da canção

Que ele toca nas cordas do violão



Ninguém vê a angústia

Que o poeta transforma em metáforas
E derrama na palidez do papel



Ninguém vê o esmero nos rascunhos

dos cronistas, contistas

que em algum momento ganha vida

e fascina os seus leitores



Ninguém vê o tempo empreendido

nos ensaios dos cantores,

Dos músicos e atores cujo ofício

Encanta os famintos de beleza



Ninguém vê o dilema do educador

Ao empreender esforços em formar para cidadania

Num contexto em que a educação não é valorizada



Ninguém vê as mãos sujas do jardineiro,

Nem os calos nas mãos dos que preparam a terra

O suor do trabalhador é invisível



O que podem esperar

Aqueles que desejam vencer,

Mas rejeitam a luta?

O que podem esperar 
Aqueles que desejam chegar sem enfrentar a estrada?



A caminhada com seus espinhos e pedras

Cansa a nossa alma,

Porém, se escolhermos não caminhar,

Como construiremos o caminho?






Gilmara Belmon


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

MEU MUNDO




Ah
Meu corpo reclama descanso
E minha alma reclama deleite
Quisera eu me trancar no quarto
Com meus amores e esquecer
Que há um mundo lá fora
Para ser transformado.
Por hoje, queria cuidar
Do meu mundo,
Beijar a minha bíblia,
Rezar com o meu terço novo,
Ouvir a canção “Os peixinhos”
Pela milésima vez,
Ler pelo menos uma página do
Livro que ganhei que fala do amor na amizade.
Ah eu queria...
Queria cantar, cantar, cantar...
E mandar o meu canto para os pássaros
Para saber sua opinião sobre minha afinação
E pra que me digam
Se além do desejo de voar
Eu me assemelho a eles também
Na vocação para o canto.
Ah, eu queria perfumar os meus sonhos,
Minhas memórias,
Abrir o baú em que guardo cartas
E mimos de amigos
Revirar tudo em cima da minha cama
E reler uma por uma
Para assim comprovar
que toda aquela chama continua acesa,
Bem acesa
Ah
Todos estes amores vão ter que esperar
Vou deixá-los guardados no meu coração,
Porque  o mundo lá fora me chama.
Preciso plantar um jardim!
Preciso sorrir para quem encontrar no caminho
Preciso dizer com minhas mãos e meus pés
Que vale à pena esperançar
Trago todos os meus amores nas minhas andanças
E, ainda que não possa por hoje,
me trancar para me deleitar com eles
Posso, com tudo que sou e que tenho,
Encarar o azedume do mundo
E, com amor, adoçar o meu dia
E o dia dos outros também.

Gilmara Belmon

domingo, 17 de setembro de 2017

SOTEROPOÉSIS



Bom dia!
Cadê a poesia?
Quero que me sirva
Como café da manhã
E como prato do dia!
Quero comer,
Beber,
Cozinhar,
Servir poesia!
Porque se a nossa vida estiver amarga
Ela adoçará a nossa vida
Se o nosso dia estiver cinzento
Ela trará  cor ao nosso dia
Se nossa alma estiver triste
Ela nos trará alegria
Ainda que tudo pareça dado,
Consumado, acabado,
Ela há de alimentar em nós a utopia
Boa noite!
Cadê a poesia?
Quero jantar,
Beber,
Servir,
Deitar,
Dormir
E sonhar com ela:
A poesia
Porque se amanhã a luta for árdua
Ela salvará o nosso dia!

Gilmara Belmon


ESCREVER E OFERTAR

Trago dentro de mim uma sede de justiça, É por isso que, paradoxalmente, Meu ser transborda de esperança. A indignação me acompanha t...