Bendita
seja a fome dos degustadores da palavra
Eles são
leitores insaciáveis
Quanto
mais saboreiam palavras,
Sua fome
aumenta
A fome da
leitura a gente mata
Momentaneamente,
Porque o
que a gente quer mesmo
É que ela
exista e aumente
Cada
livro saboreado nos ensina a olhar e ver
Rever e
ver de novo de diferentes formas,
Cores,
sabores e aromas
E a
leitura amplia os meus sentidos:
Saboreio
as cores
Ouço os
sons das imagens
Cheiro e vejo os
sons
Toco as
metáforas
Os textos
me leem maliciosamente
E se me
escondo de mim mesma
Eles me
revelam a mim
O que há
de silêncio em meu ser,
Eles vociferam
Os
escritores são bruxos, magos,
Mágicos,
videntes
Como
sabem tanto da gente?
Eles
desenham as coisas da vida
Cozinham
aventuras para todos os gostos
Costuram
paixões e afetos
A pena é
a sua arma,
Sua
agulha,
Sua
colher de pau
Os
livros, a prova do crime
Os
escritores têm o poder de produzir
A fome de
encantamento e a sua saciedade
Cada
livro degustado, ruminado, devorado
Nos
empurra para frente, para cima
A gente
se apropria dele,
Ao passo
que ele se apropria da gente
O livro
que li, que me leu, que comi, degustei
É meu e
ninguém rouba isso de mim
E o que
ele me deu, acrescentou, iluminou, acendeu, despertou
Me leva a
criar, voar, crescer e amar
Na
biblioteca e na livraria
Reconheço
o meu lugar
Me embriago,
me deleito
No livro
é que eu me acho
No livro
é que eu me perco
Gilmara
Belmon