Era um grande Reino,
o Reino do Amor.
Lá se celebrava
o Amor como nenhum reino havia feito em toda a história da humanidade.
Compositores
criavam odes ao Amor, dançarinos criavam suas coreografias,
Os altares onde
se adorava o Amor e se lhes ofertavam sacrifícios eram de todos os reinos os
mais belos e perfumados.
Nas celebrações,
a mesa era farta, como as ofertas também. Mas ao menor destaque de um ministro,
os outros ministros se enchiam de ciúmes, ficavam vermelhos, cegos e sisudos.
Se um ministro do
Rei da segunda ordem demonstrasse talento para o canto, os ministros da
primeira ordem, em reunião extraordinária, editavam leis que proibiam o canto
nas celebrações.
Quando outro
ministro apresentava exímia oratória, lá vinha novamente o aviso da reunião
urgente para proibir as pregações nas celebrações.
Quando o
ministro da dança emocionou a todos com sua criatividade e leveza, os demais
ministros se reuniram e decidiram que a dança fazia mal aos olhares do
povo.
Um dia um
ministro da segunda ordem questionou o fato de as reuniões extraordinárias,
pouco a pouco, se tornarem ordinárias, e um ministro, sem que o rei soubesse, cassou
a investidura do ministro questionador.
“Cumpra-se a
lei, não a questione!” Era o lema.
Os ministros da
primeira ordem se congratulavam por não surgirem outros ministros tão “sábios” que
lhes pudessem substituir um dia.
Vez ou outra aparecia
um ministro com talentos e logo evocavam a reunião extraordinária.
E foi assim que
a prepotência e o ciúme entre os ministros tornaram frias e vazias as
celebrações ao Amor, não havia mais o canto nem a dança, não havia pregações e
nem questionamento.
Com isto, o povo
foi se esfriando, foi percebendo e por isso se cansando daquelas celebrações ao
Amor sem a presença dele, daqueles encontros de amorosidade aparente, de ciúme
encoberto de amor, que clamou ao Rei por uma assembleia extraordinária. No dia
da assembleia, o povo exigiu do Rei uma lei que proibisse a entrada do ciúme e
da prepotência nos gabinetes dos ministros.
O Rei prometeu estudar
o caso e, preocupado com as consequências desta nova lei, ele se questionava:
“E se não houver
ministros conforme a exigência do povo?”
Mesmo assim, o
rei prometeu ao povo que iria pensar. E o povo aguarda ansioso por sua
resposta.
Onde imperam o
ciúme e a prepotência, o amor pode até entrar, mas lá não se demora.
Gilmara Belmon