Neste Blog você encontrará textos literários de minha autoria e de outros autores. Nele irei compartilhar também minhas experiências de leitura.
domingo, 18 de novembro de 2018
CORAÇÃO DE CRIANÇA
Quando uma criança
Abrir-lhe o coração,
Tire as sandálias e entre
Mas entre sem pretensão
De lhe impor uma lição,
Um conhecimento, uma teoria
Ao entrar no coração de uma criança,
Nada queira ensinar-lhe
Sem que antes se disponha a escutá-la
E então viverá
Uma experiência fascinante,
Mais do que ensinar,
Você irá aprender e se encantar
Ser criança é viver
Num contínuo estado de poesia
É olhar o mundo com os olhos do coração
É saber enxergar a beleza
na simplicidade da vida
Coisa que o olhar adulto desaprendeu a fazer
E quando uma criança abrir-lhe o coração
Entre de pés descalços
Sinta-a, escute-a, olhe-a, ame-a
Você jamais sairá
do mesmo jeito que entrou
E ao sair, abra também o seu coração
Convide a criança que há em você
Para brincar ,sorrir, dançar e viver
Não deixe nunca a sua criança crescer
Gilmara Belmon
Foto: Oficina de Poesia com os catequizandos da Paróquia São José Operário ( Feira de Santana- BA)
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
COLO DIVINO
Jesus, Senhor da minha vida,
Coloco a minha cabeça
No teu divino colo
E nele descanso
minhas inquietações,
meus sonhos
e meus medos
A Ti eu me entrego,
Em Ti eu me derramo
Me deito
Me jogo
Me despedaço
Me rasgo
Porque o cansaço me tomou por inteira,
Eu cochilei enquanto orava,
O sono era para mim um luxo,
Um fragmento de liberdade
E quando acordei
Eu me dei conta de que
deixei-Te falando sozinho
Eu quis retomar a conversa,
Mas a verdade é que eu me apresentei a Ti
quando eu era apenas uma sobra
da mulher que vencera mais um dia
E a cada descuido meu,
Eu me permiti ser velada por Ti
Eu me rendi
Escolhi permanecer em Teu colo
Preciso do Teu cafuné,
Do Teu dengo, do Teu amparo
Do Teu doce aconchego
Eu preciso de Ti, Meu Senhor
Para enfrentar e viver a vida
Para, apesar das vendas impostas,
Continuar a enxergar horizontes
No teu colo, oh Senhor,
O medo não me toma
Aos cuidados do Teu amor,
Eu morro para de novo viver
Gilmara Belmon
terça-feira, 13 de novembro de 2018
HERDEIROS DA ESPERANÇA
Foto: Jucy Brito
Local:Terra Nova - BA
Local:Terra Nova - BA
Foi a partir dos engenhosQue Terra Nova se formouSomos homens e mulheresHerdeiros daquelesQue nos engenhosDerramaram seu suor e seus sonhosE será que sonharam?Ah sonharam...Sonharam com o melhor para os seusUma terra melhorUm mundo melhorCom tudo aquiloQue eles nunca chegaram a possuirQue nem mesmo sabiam como era usufruirSonharam com uma vida diferenteQueriam emancipaçãoQueriam educação para sua genteNossos antepassados fizeram história,SuandoConstruíram a história,Lutando,Sonhando,Sofrendo...Eles são a própria históriaEis no nosso solo massapêAs marcas do quanto eles cultivaramPara que tivéssemos o que temos hoje aquiEis o nosso chãoQuão admirável fertilidadeEis a nossa terra, a nossa identidadeSomos descendentes daqueles que cortaram a canaProduziram o açúcar e das Usinas tiraram o seu sustentoMiremos seus exemplosSomos seus herdeiros,Trabalhadores,Sonhadores, esperançadoresTemos os samba nas mãos e nos pésOlhemos a paisagem, o bueiro, o chaléMiremos a beleza do horizonteComo é tão distante!Não cansemos de esperançarFazer história é um constante caminharGilmara Belmon
quinta-feira, 8 de novembro de 2018
CHUVA, FLOR E AMIZADE
CHUVA, FLOR E AMIZADE
A chuva beija a flor
E a encharca de afeto
Toca-a para que sinta
Que ela está por perto
Um amigo é como aquela chuva
Que encharcou a flor de afeto
Sempre acha um jeito de nos tocar
Esteja ele longe ou perto
Gilmara Belmon
Foto: Gilmara Belmon
Local: Jardim da autora
A chuva beija a flor
E a encharca de afeto
Toca-a para que sinta
Que ela está por perto
Um amigo é como aquela chuva
Que encharcou a flor de afeto
Sempre acha um jeito de nos tocar
Esteja ele longe ou perto
Gilmara Belmon
Foto: Gilmara Belmon
Local: Jardim da autora
terça-feira, 6 de novembro de 2018
LÁ ONDE HABITA O AMOR
Chegando lá, o amor logo se apresentou antes mesmo que minha irmã e eu entrássemos na casa.
Apresentou-se assim o amor no cheiro amoroso da comida preparada pelas mãos cuidadosas de D. Benta e, ao mesmo tempo, nos olhares ternos e nos sorrisos acolhedores das pessoas a nos abraçar, antes mesmo que seus braços nos alcançassem.
E foi assim a todo instante nas pequenas coisas o amor ia se apresentando, nos rostos risonhos e amorosos durante o almoço, como também, nas mãos zelosas de Caio ao trocar os meus talheres por outros mais novos.
Apresentou-se assim o amor no zelo revelado na mesa posta a qual não tínhamos pressa em deixar. Nas palavras de D. Benta: “Hoje abrimos a mesa, não é todo dia que isso acontece!”
E nós que não queríamos fechar a mesa, mesmo tendo terminado o saboroso almoço, deixamo-nos encantar pelos risos, causos que surgiam um após outro, pelo delicioso sorvete, pelas cocadas feitas por Romana, pelo fascinante licor português trazido pelo filho padre, pelas balas de jenipapo feitas por mainha, pelo saboroso cafezinho, e pelo amor que ficara ali perpassando a tudo e a todos.
Descortinava-se o amor nas memórias de D. Benta a relatar com brilho nos olhos a Ordenação do filho que, no dizer dela e no meu também, fora a mais bela de todas já vistas por lá como também mais bela não haverá.
E o amor se apresentava em cada membro da família que aparecia de repente. O amor, sempre o amor, que se revelava no olhar amoroso de D. Benta dirigido a mim e que eu percebia quando despertava dos meus pequenos momentos de distração.
Desfilava assim o amor nas suas memórias da minha amizade com seu filho de longas datas, de velhos tempos e que nunca morrera, nunca adormecera porque o amor nunca deixara.
Espalhara-se o amor pelo quintal a fora por entre as plantações. E, adentrando à biblioteca do padre, entremeara-se com os livros.
Em nosso círculo de fé e poesia, de mística e poética o amor reinou como partilha arrancando-nos sorrisos e causando-nos encantamento, gestando sonhos e amorosidade ao som das conversas e gostosas risadas das amadas pessoas da família,
cujo som vinha de lá da cozinha que em nada nos tirava a tranquilidade.
Também o tempo corroborou com o amor, não se apressou, ficou sem passar, passando...
Ao fim da tarde, a lua brilhara ali no quintal, linda, livre e inteira fazendo o meu olhar e o de Romana flutuarem seduzidos pela sua beleza, mas com os ouvidos atentos aos prazeres tecidos pela sedutora narrativa de Lispector, na voz suave do amigo padre e poeta.
E ao amor que testemunhara tudo, brindamos com o fascinante licor e a tão familiar caneca de café. Não queríamos que o encontro chegasse ao fim, não sei dizer ao certo se chegou, penso que o amor não deixaria, não deixara. Ao que parece, aquele saboroso momento delicadamente desenhado por Deus continuou acontecendo lindamente em nossas memórias como faíscas de eternidade!
Gilmara Belmon
sábado, 3 de novembro de 2018
SEMEAR OU MORRER
Pode ser que alguém já tenha sonhado
Com o que hoje estou semeando
Alguém, um dia, verá crescer
O que hoje estou regando
Alguém haverá de colher
O que hoje estou cultivando
E se alguém destruir?
E se ninguém regar?
E se não florescer?
E se não frutificar?
E se a planta morrer?
Não cabe a mim perguntar
Como não cabe a mim responder
A única certeza que tenho ao semear
É de que preciso fazer
Ainda bem que existe a semente
Entre mim e ela
A minha fome de plantar
A minha fome de cuidar
Encantada pelo sonho e pela esperança
Se eu não sonhar
Se eu não esperançar
Se eu não me entregar à semeadura
Ainda que seja incerta a colhedura
Morrerei de fome.
"A tua fome é de colher", dirão.
"A minha fome é de VIVER", direi.
Gilmara Belmon
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