Ninguém vê o inchaço
nos dedos dos pés
da bailarina por dentro
da sapatilha que brilha
durante o espetáculo
Ninguém vê os calos nos dedos
Do violonista que se escondem
Por entre as notas da canção
Que ele toca nas cordas do violão
Ninguém vê a angústia
Que o poeta transforma em metáforas
E derrama na palidez do papel
Ninguém vê o esmero nos rascunhos
dos cronistas, contistas
que em algum momento ganha vida
e fascina os seus leitores
Ninguém vê o tempo empreendido
nos ensaios dos cantores,
Dos músicos e atores cujo ofício
Encanta os famintos de beleza
Ninguém vê o dilema do educador
Ao empreender esforços em formar para cidadania
Num contexto em que a educação não é valorizada
Ninguém vê as mãos sujas do jardineiro,
Nem os calos nas mãos dos que preparam a terra
O suor do trabalhador é invisível
O que podem esperar
Aqueles que desejam vencer,
Mas rejeitam a luta?
O que podem esperar
Aqueles que desejam chegar sem enfrentar a estrada?
Aqueles que desejam chegar sem enfrentar a estrada?
A caminhada com seus espinhos e pedras
Cansa a nossa alma,
Porém, se escolhermos não caminhar,
Como construiremos o caminho?
Gilmara Belmon